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05 de Outubro, 2015

Governo retrocede no diálogo da logística reversa de embalagens

Governo retrocede no diálogo da logística reversa de embalagens

Entidades farão ampla mobilização para defender os municípios na proposta de acordo setorial

Na última quinta-feira, 01º de outubro, a diretora do Departamento de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Zilda Veloso, informou que o governo federal decidiu não enviar para a avaliação dos municípios o novo texto do acordo setorial destinado à logística reversa de embalagens em geral. A declaração foi dada em Brasília durante o “I Encontro Nacional de Gestores Municipais de Limpeza Urbana”, uma realização das entidades municipalistas e do setor de saneamento básico, sob a coordenação da Assemae. 

De acordo com o presidente da Assemae, Aparecido Hojaij, é inadmissível a assinatura do acordo setorial sem o prévio conhecimento do ente federado municipal, uma vez que a logística reversa envolve diretamente os serviços municipais de limpeza urbana, e poderá trazer grandes prejuízos financeiros aos municípios. “Não podemos ser responsáveis por uma atribuição legal do setor privado, que tem a obrigação de encaminhar as embalagens para a destinação ambientalmente adequada”. 

Segundo o secretário executivo da Assemae, Francisco Lopes, as entidades municipalistas e do setor de saneamento básico farão uma ampla mobilização para retomar o debate com o governo federal, buscando assegurar o protagonismo dos municípios nas políticas públicas do país. “O governo eleito se propôs ao diálogo como bandeira de campanha. Nós queremos o diálogo. Caso ele não aconteça, seremos obrigados a tomar outras medidas, inclusive, em âmbito judicial, de maneira a defender os interesses dos mais de cinco mil municípios brasileiros”, disse.

Convidada como palestrante do evento, Zilda Veloso destacou o panorama dos acordos setoriais no Brasil, a exemplo das ações que envolvem as lâmpadas fluorescentes, embalagens de agrotóxicos, pneus, óleos lubrificantes e embalagens plásticas. Sobre o acordo setorial de embalagens em geral, a diretora lembrou a publicação do edital de chamamento nº 2/2012, que selecionou a proposta encaminhada por um grupo de entidades empresariais denominado “Coalizão”. A diretora também comentou o processo de consulta pública da proposta escolhida e o recebimento de quase 970 sugestões com alterações ao texto. 

Por fim, Zilda esclareceu sobre a revisão da proposta de acordo setorial, informando que o novo texto encontra-se sob a análise técnica e jurídica do Ministério do Meio Ambiente. Disse que o governo federal optou em não abrir o texto revisado para negociação junto aos municípios, com a justificativa de acelerar o processo e assinar o acordo ainda em 2015. 

Tal posicionamento contraria o que o governo federal havia afirmado em reunião com as entidades municipalistas no dia 03 de setembro. Na ocasião, o Ministério do Meio Ambiente relatou que estava negociando com a coalização empresarial para a construção de um novo texto do acordo, e que o pleito dos municípios sobre o ressarcimento das atividades de logística reversa seria atendido. Além disso, havia pactuado que encaminharia a proposta atualizada para conhecimento das entidades municipalistas, após a avaliação técnica e jurídica. 

A proposta 

A implantação da logística reversa de embalagens está sendo amplamente debatida pelas entidades municipalistas, órgãos estaduais e do setor de saneamento básico, pois considera-se fundamental garantir a correta participação dos municípios no processo. Isso porque a proposta da coalizão empresarial apresenta uma série de responsabilidades aos municípios e não define claramente as obrigações de fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de embalagens. O texto também contraria diversos dispositivos legais, dentre eles o item no qual se prevê que as ações dos municípios na logística reversa de embalagens em geral “serão devidamente remuneradas” (art. 33, § 7º, da Política Nacional de Resíduos Sólidos). 

Nesse contexto, as entidades formaram um grupo de trabalho, coordenado pela Assemae, cujo objetivo seria analisar a proposta de acordo setorial sob a ótica dos municípios. No processo de consulta pública, o grupo encaminhou 35 contribuições destinadas à melhoria da proposta empresarial. Desde 2013, as entidades têm atuado em defesa dos municípios, inclusive, participando de reuniões com representantes do governo federal. O próximo passo será realizar uma ampla mobilização nacional para garantir, pelo menos, o correto ressarcimento dos municípios ao desempenharem atividades da logística reversa de embalagens em geral.

Última modificação em Quarta, 07 Outubro 2015 10:49